sábado, 4 de outubro de 2008

2 álbuns, 2 medidas...



Imagine-se no já quarentão ano de 1966. Enquanto sua irmã põe uma saia vermelha rodada de pregas combinando com a Conga branca e o seu irmão assiste ao Vila Sésamo na tv de válvula, você, ó pobre adolescente-revoltado com seus pais, com o corte de cabelo militar padrão, ou com qualquer merda conservadora que aparecesse na sua frente, ganha seus primeiros mangos suados lavando o carro do vizinho....

E daí que você deixou de ver o Vigilante Rodoviário para trabalhar de semi escravo? O importante é que agora tem fundos para se jogar naquele seu óasis, que atende pelo nome de loja de vinil. Até o ar lá dentro parece diferente - o cheiro de poliuretano, o barulho do sino colado a porta e todas aquelas capas coloridas o fazem nem ligar para o Vanderlei Cardoso ouvido no talo da vitrola pelo gerente.

Tudo bem que o My Generation do WHO já supria sua secura musical, mas ele já estava precisando de uma companhia à altura, afinal, as crianças não estavam tão bem assim. Seu Kichute surrado parece deslizar até a prateleira dos Internacionais, tão vasta nesses tempos que você se imagina como sua mãe de vestido de bolinha enchendo a cestinha de frutas, no caso, frutas arredondadas e pretas , com 36 rotações e milhões de viagens inclusas.

Contudo, a Loja de Discos não é a venda da esquina, e os dizeres de "FIADO NEM A CARALHO" estão bem visíveis na porta, fazendo sua viagem Édipiana escapar entre seus insuficientes 20 mangos. Escolher apenas um parece tão auto mutilante, que até para o maldito dono da loja você pede ajuda. Ele lhe aponta os recém chegados Revolver, dos Beatles e para o Blonde on Blonde de Bob Dylan. Qual você escolhe?

A lógica de mercado te oferecerá a resposta mais fácil, o caminho mais curto da casa da vovózinha. Os terninhos alinhados, os cabelos de 'tigela mamãe que fez' tocando uma música medíocremente digerida lhe trarão dividendos até em casa. Ouvirás o Revolver com sua família feliz, de propaganda de margarina, e exprimirá toda sua rebeldia transgressora nuns acordes perdidos de cítara e numas viagens primárias de experimentação superficialmente produzida.

Ah, o fantástico mundo do Pop! Para que gastar seu pobre dinheirinho num drogado de voz anasalada e cabelo desgrenhado? Que ainda resolve lançar um disco duplo, que é folk mas usa guitarra eletrônica? Que foge dos padrões da indústria cultural, do Yellow Submarine grudento ? Aposte nos almofadinhas de Liverpool e quem sabe fature algumas groupies. Esqueça o americano tão chato de tão lúcido, do trovador prestes a (anfeta)minar sua própria carreira...

Agora volte ao mundo de playlists, Ipods e Iphones. De qual dos quarentões nunca se fala mal? Quem são os intocáveis da música? Quem é pedra e quem é vidraça?

A mídia conformista já escolheu seu lado mais vantajoso.


E você, que disco comprou?